terça-feira, 8 de julho de 2008

Astro-regente


Esta noite escreverei sobre o sol. Às vezes você esteja se perguntando o porquê, já que, imagino eu, esteja acostumado com uma noite repleta de estrelinhas. É uma boa pergunta! Pensarei em algo, em uma resposta que lhe agrade. Dê-me tempo por favor, que ela virá talvez até mesmo antes dele.
Pensando bem, não perderei tempo com respostas, digo que virão atreladas às linhas que se seguem. É como um contador de histórias, ele as conta e sua platéia é encantada, aplausos e assobios cortam o ar estático. E ai está! Não há debates entre o contador e a platéia, nenhum rabujento faz perguntas sobre a procedência da história.Todos simplesmente aplaudem e ficam satisfeitíssimos. As respostas vem sem perguntas e são lindas assim, sem mais nem menos.
Voltando ao assunto, escreverei sobre o sol esta noite. Meu Deus! Agora até eu me pergunto o porquê do tema, diacho! O contador de histórias e sua platéia vão ter de esperar um prolongado debate interno comigo mesmo. Certas verdades cabem apenas em certas ocasiões, e eles são uma destas.
- Escreverei sobre o sol pois quero lhes dizer que vocês o cansam! Essa história de astro-rei pra cá e pra lá tem o deixado extremamente irritado. Não vêem os noticiários? Cada dia mais quente e mais quente e mais quente! A noite é rei, o sol não passa de um príncipe regente que tem seu ofício sobrecarregado por essa conversa fiada! - quero ver depois que ele explodir após um ataque de nervos! O que sobrará? A noite!, e assim voltarei a escrever sobre ele sem vocês, seus perguntadores chatos!

Um sentido para a bandeira.


...

Passei um tempo pensando em um sentido para a bandeira do Brasil... olhei para ela, toda a se esbaldar por cima de um prédio.O vento batia e a fazia correr, mas sem sair do lugar. Lembrei dos brasileiros: a poesia é que faz o poeta.
Interpretado agora por um semblante triste, veio à meu encontro a tristeza, me dividindo com a melancolia, tornei-me aconchegante para elas. Ora tristeza. Ora melancolia. Assim me passaram alguns minutos.
Continuei a observá-la: bonita sim, mas seja pela minha melancolia, ou seja pela dela, pareceu-me ter qualquer coisa, menos um sentido a lhe dar. Era estranho, mas era, pareceu carecer de um.
É linda, de fato!, contudo apenas deixava o cenário menos cinza que o de costume, não era nada ali além de uma bandeira, colorida e correndo, sem sair do lugar... Me fez pensar que pedia por atenção, sorria num sorriso tímido, talvez por saber que seu rosto é mais bonito que seus dentes, justamente por lhe faltar alguns, e os poucos que tinha aparentavam não lhe pertencer. Sorria com dentes alheios.
Devolvi o sorriso, uma ou duas vezes, mas ela não me viu. Pedi as pessoas que por ali passavam para que sorrisem também. Nada adiantou, não dera moral para nenhuma delas.
A sua fisionomia me assustou quando, novamente, a fitei. Parecia negra, talvez pela noite que já se fazia, talvez pelo petróleo queimado pelos carros que tumultuavam minha vista. Descobri, posteriormente, que a bandeira mantêm uma relação afetiva, são amantes, ela e o petróleo. Ele, a faz sentir soberana, dona de si. Ela, lhe dá todas as condições para jorrar em seu ventre os fluídos que a faz mulher. É um amor sujo, e os dois se sujam, e os dois se lambuzam, um no outro, numa arritmia cardíaca, numa dança frívola...

terça-feira, 1 de julho de 2008

A árvore

...

Aquela árvore ali, tão quieta
Esconde alguns segredos meus.
O que do quarto, conta a fresta
Só sabem deles, ela e Deus.

A árvore ali... que falcatrua!
As quatro em ponto, todo dia
Pega a vizinha toda nua.

Me olha e diz: vida chata é a tua!
Com tamanha correria
Nem conhece a própria rua!

Aquela árvore ali... tão quieta
Esconde alguns segredos meus.
O que do quarto, conta a fresta
Só sabem deles, ela e Deus.