terça-feira, 8 de julho de 2008

Um sentido para a bandeira.


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Passei um tempo pensando em um sentido para a bandeira do Brasil... olhei para ela, toda a se esbaldar por cima de um prédio.O vento batia e a fazia correr, mas sem sair do lugar. Lembrei dos brasileiros: a poesia é que faz o poeta.
Interpretado agora por um semblante triste, veio à meu encontro a tristeza, me dividindo com a melancolia, tornei-me aconchegante para elas. Ora tristeza. Ora melancolia. Assim me passaram alguns minutos.
Continuei a observá-la: bonita sim, mas seja pela minha melancolia, ou seja pela dela, pareceu-me ter qualquer coisa, menos um sentido a lhe dar. Era estranho, mas era, pareceu carecer de um.
É linda, de fato!, contudo apenas deixava o cenário menos cinza que o de costume, não era nada ali além de uma bandeira, colorida e correndo, sem sair do lugar... Me fez pensar que pedia por atenção, sorria num sorriso tímido, talvez por saber que seu rosto é mais bonito que seus dentes, justamente por lhe faltar alguns, e os poucos que tinha aparentavam não lhe pertencer. Sorria com dentes alheios.
Devolvi o sorriso, uma ou duas vezes, mas ela não me viu. Pedi as pessoas que por ali passavam para que sorrisem também. Nada adiantou, não dera moral para nenhuma delas.
A sua fisionomia me assustou quando, novamente, a fitei. Parecia negra, talvez pela noite que já se fazia, talvez pelo petróleo queimado pelos carros que tumultuavam minha vista. Descobri, posteriormente, que a bandeira mantêm uma relação afetiva, são amantes, ela e o petróleo. Ele, a faz sentir soberana, dona de si. Ela, lhe dá todas as condições para jorrar em seu ventre os fluídos que a faz mulher. É um amor sujo, e os dois se sujam, e os dois se lambuzam, um no outro, numa arritmia cardíaca, numa dança frívola...

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